É preciso ter empatia
sobre o adoecimento mental.
É preciso quebrar paradigmas frente à dependência química..
É preciso construir novos olhares..
Antes de falarmos sobre tratamento em dependência química precisamos
compreendê-la.
Dependência química é a relação que o sujeito tem com as drogas e a
maneira como ele consome a substância (álcool, tabaco, drogas), independente de
ser lícita ou ilícita. Pela organização mundial da saúde, a dependência química
é uma doença crônica, caracterizada por alterações físicas e mentais que o uso
ou abuso de substâncias causam no sujeito.
Não existe uma única causa que leva o sujeito a se tornar um dependente
químico, mas sim uma junção de diversos fatores, tanto sociais, mentais e até
hereditários.
Antes de falarmos sobre o processo de tratamento, faz se necessário
mensurar que a fase inicial dele, se inicia na ACEITAÇÃO patológica, e chegar
nesse patamar tem se um longo caminho a ser enfrentado. Para assim
posteriormente obter a aceitação de aporte de tratamento de uma equipe
especializada.
Mas antes da aceitação pela busca do tratamento, o que por vezes pode
não ocorrer, o que auxilia também na não efetividade por essa busca é o tabu
que a doença mental ainda é vivenciada nos dias atuais, mesmo com todos os
avanços já conquistados. Infelizmente ainda se é estigmatizado e banalizado o
adoecimento mental. Muitos sujeitos ainda tem dificuldade de buscar aporte de
serviços de especialidade devido ao pré-conceito que sofrem como outros pelo
negacionismo patológico.
A busca pelo tratamento nem sempre vem através do próprio sujeito em
sofrimento, mas por muitas vezes pela família que já se encontra em quadro de
coodependência patológica, no qual também necessita ser assistida.
Existem duas formas de tratamento: ambulatorial e internação
hospitalar (voluntária, involuntária e judicial) em leitos de
especialidade, que é o que compõe nosso trabalho na Unidade de Saúde Mental do
Hospital de Caridade de Crissiumal.
Uma vez dependente químico, sempre dependente, indiferente de estar ou
não em recuperação, usando ou não usando algum tipo de substância. Não há cura
para a dependência, existe sim tratamento com êxito, contínuo e permanente.
A dependência química é uma doença que não atinge apenas o sujeito, mas
sim toda família, pelas literaturas qualquer tipo de comportamento
toxicomaníaco tem uma incidência sobre aqueles que rodeiam a pessoa em causa e,
sobretudo, sobre a sua família, tornando a coo-dependente do problema. O
convívio com o dependente faz com que os familiares adoeçam emocionalmente,
sendo necessário que o familiar também se trate, e, ao mesmo tempo, receba
orientações a respeito de como lidar com o dependente, como lidar com seus
sentimentos em relação ao mesmo.
Também considerada como uma doença psicológica, tendo a sensação de
satisfação e um impulso psíquico provocado pelo uso da droga que faz com que o
indivíduo a tome continuamente, para permanecer satisfeito e evitar mal estar,
ou seja, quando o consumo repetido cria o invencível desejo de usá-lo pela
satisfação que produz.
O principal objetivo do tratamento é ajudar o mesmo a compreender sua motivação para o uso da substância, bem como sua motivação para a abstinência da mesma substância. Ou seja, ajudá-lo a lidar com o conflito entre usar e não usar.
A maioria dos usuários de substâncias psicoativas tem nelas, além de prazer, a "solução" para algum problema com o qual não tem sabido lidar de outra maneira. Usar substância nesse caso é uma boa forma de aliviar angústia e ansiedade. Nesse caso, o "alívio" é um importante fator motivacional para o uso, apesar do reconhecimento, pelo próprio paciente, de que esse mesmo uso traz problemas, relacionados a saúde física, emocional, as relações familiares, e situações financeiros.
O tratamento permitirá ao indivíduo lidar com os sintomas de abstinência, que poderão estar mais amenos em conduta de processo de desintoxicação. Também devo aferir sobre o processo de tratamento psicológico da dependência química que visa mostrar ao paciente que ele possui em si próprio meios de enfrentamento de situações desconfortáveis sem a utilização de drogas. Como já foi dito, os aspectos psicossociais exercem um papel muito importante na manutenção da doença, pois passados os sintomas de abstinência, são eles que permanecem. Assim, o acompanhamento de um psicólogo é de extrema relevância para o tratamento da dependência química, pois mais importante do que a abstenção das substâncias que causaram a dependência, é manter o indivíduo afastado das drogas, que será um desafio constante na vida do sujeito.
Interromper o comportamento de beber, nesse caso, resolve parte do
problema, pois a ansiedade e angústia continuarão existindo após a sobriedade.
Assim, num primeiro momento, o tratamento com uma equipe multidisciplinar, deve
ajudar o sujeito a entender porque usa álcool ou drogas. Uma vez compreendida a
função da droga na vida daquele sujeito, é preciso ajudá-lo a desenvolver
habilidades para enfrentamento dessas situações sem a droga, com psicoterapia
contínua. Há casos em que pacientes não vem apenas com a questão da dependência
química, mas trazem consigo, em seu perfil psicológico outras comorbidades
(depressivos, bipolares, esquizofrênicos),nas quais também são trabalhadas.
Permanecer na conduta de tratamento em especialidade não é o bastante é preciso continuar como acima já citado em fala anterior. O acompanhamento continuado é a estratégia mais indicada nos quadros de dependência química. Este pode ser realizado de forma ambulatorial em serviços de suporte como Esf, Caps, AA e também Comunidade Terapêutica. Ressalvo que a continuidade do tratamento aos serviços é avaliada pela equipe dentro do plano de atendimento bem como do perfil e quadro de adoecimento do sujeito.
Importante ressaltar que apenas os profissionais capacitados podem
definir a sua alta, o perigo na dependência química é essa, a alta que o
próprio sujeito se dá quando percebe que encontra-se estável e não prevê a
recaída, no qual também faz parte do processo de adoecimento.